sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Partir é chegar...

... e chegar nem sempre nos é menos doloroso que partir.
Há um pouco mais de um mês da minha chegada no Brasil, na minha cidade, na minha casa, encontro-me sentada no chão do meu quarto fazendo novamente uma mala (engraçado que com um mesmo cachorro, a minha poodle Vida, que não pode ver uma mala aberta ou alguma beirada de pano dando sopa ao seu alcance, deitada dentro dela. Ela ainda insiste em querer ir comigo para algum lugar hehehe). A mesma mala que viveu comigo 4 meses inesquecíveis em Londres agora irá me acompanhar em uma viagem de cruzeiro pela Argentina e Uruguai, planejada há quase um ano. Ela foi esquematizada de forma completamente diferente de como irá acontecer. O que me faz lembrar exatamente da vida, de como ela é e de como nela TUDO MUDA, o tempo todo no mundo. Nela, não podemos prever NADA. Fazer planos e traçar metas e rotas é importante, creio eu, mas não podemos tentar adivinhar os tão famosos imprevistos que nos assolam. É fato! O que me aconteceu no ano que acaba de ir embora é exemplo vivo disso. Lembro-me de exatos 12 meses atrás traçar planos e metas bem diferentes para o ano novo que viria. Londres? Nem de longe estava em meus desejos para 2009. Eu só queria continuar no meu emprego, talvez iniciar uma pós que ainda não sabia em que, libertar-me do passado e viver o presente intensamente. Queria que o tempo passasse rápido para que isso fosse possível. Ele, claro, não parou. E as surpresas da vida foram aparecendo na medida em que íamos vivendo os dias e os meses. Em Junho surgiu a ideia de ir pra Londres. Passei a borracha nos meus planos riscados no final de 2008. Era a chance perfeita de mudá-los para melhor, e assim foi (ainda espero concordar em gênero, número e grau com isso).

Semana do Reveillon. Essa seria a semana da minha chegada após quase 6 meses fora do Brasil. Mesmo tendo chegado antes do previsto, a readaptação não foi fácil. Após a alegria do reencontro com nossos amigos e familiares e a chama do fogo da saudade ter sido apagada, era hora de enfrentar a realidade mais uma vez e agora com as mangas arregaçadas para ajudar na luta contra o câncer (e tudo o que vem com ele já incluso no pacote) da minha vó. Fora isso, os sentimentos que envolvem o chegar em casa após um período fora é um tanto quanto complicado de se entender e de explicar. Porém, remexendo em textos antigos de um dos meus escritores favoritos, o Caio Fernando de Abreu, pude ao menos começar a entender o que estava sentindo naquelas primeiras semanas de readaptação ao ler uma de suas boas frases:

"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto."
É exatamante isso o que acontece. Viajar é isso! É querer sempre mais. É viciar. E junto com todo seu vício, as crises de abstinência quando não se está viajando. É estranho pensar na lógica do tal porto que Caio coloca na frase. Você, quando está em outro país, não se sente parte dele. Não foi ali que nasceu, portanto não precisa se importar com a política dele, a economia os problemas corriqueiros que o envolvem. Às vezes você acaba descobrindo que não é ali seu porto. Como pode ser alí seu ponto final, o lugar onde deseja ficar o resto de suas vidas, criar raiz, constituir família, encontrar profissão. Mas, quando não é e tem que voltar ao seu país de origem, PUTZ!você sente uma coisa estranha, uma sensação de também não fazer mais parte dele. Ops! Oh, dear me! "Deve haver um porto". Não é possíííível!!Caio tem toda razão... Outro fato fica claro ao retornar: tudo (e todos) continua(m) do mesmo jeitinho. Parece que antes de sair você apertou o stop no controle remoto e foi. Viveu, aprendeu, adquiriu cultura, mais experiência em todos os sentidos e as pessoas daqui, não. E isso, minha gente, não estória de viajante não, hein? Daí você chega, encontra seus amigos, senta na mesa do bar e na primeira conversa sobre a vida, ao tocar no nome do País onde estava, passa de “saudade” à pessoa mais chata, metida e aparecida do mundo todo. Genteeee! Mas o que deve ser dito se nos últimos sei lá quantos meses, anos ou dias, sua vida foi lá??? E se tudo o que viveu não foi aqui no mesmo BATcanal, no mesmo BATlugar? ? Eu, hein?!!? (Contudo, entretanto, todavia, infelizmente (ou felizmente, a vida pode te mostrar mais tarde e com o passar dos dias) não podemos dizer que nada muda. Algumas coisas, justamente aquelas quais que você menos queria que mudasse, mudam. É sua velha-nova vida continuando e sua chegada nem sempre menos dolorosa que a partida...

A vida da gente vive mudando e insiste em não nos comunicar tais mudanças. Mas, aprendi que o mais importante é que saibamos vê-las como novas experiências, novos aprendizados. São essas surpresas que nos mostram quem somos e para que aqui viemos. Isso se você estiver aberto e pronto para enxergar a si mesmo. No nosso caso, mais uma vez, quando resolvermos trocar nossas passagens e voltar, novos planos foram redesenhados. E quando chegamos aqui e nos vimos diante de um novo desafio, redesenhamos novamente os planos. Ainda essa semana, recebemos uma notícia que talvez nos fará mudá-los novamente. That´s life, “é a vida” (agora em inglês). Assim, no primeiro dia do ano novo, resolvi então que não traçarei planos de futuro para 2010. Sem saber se isso é bom ou ruim, e contrariando talvez todos os terapeutas do universo, para o próximo só tenho a intenção de VIVER com ESPERANÇA (com todos os sentidos que essas duas palavras podem significar para mim e para você). E a única certeza que tenho é que esse é um dos "não-planos" mais perfeitos que já tracei em todos esses meus (quase!) 28 anos de vida.


O que se pode confirmar após sua chegada:

*Quando você está longe de casa, quer voltar para sua família, sua casa, seus amigos. Sente falta do banheiro, do clima, da água, dos cachorros, da sua caminha gostosa;

*quando está em casa, sente falta do que estava vivendo. Da árdua rotina, de ouvir a língua, dos novos amigos, da casa onde morava, da cama quebrada onde dormia, do céu cinza que te cobria. Até do frio INENARRÁVEL você sente saudades;

*que algumas pessoas você consegue amar ainda mais quando está longe, e outras que você consegue amar mais quando está longe;

*que seu País é lindo, mas o transporte público é terrível, a atenção à saúde uma lástima e a miséria um absurdo;

*que o calor só é bom quando se vive no frio e que vivendo nele você não sobrevive apenas de um banho por dia (ou a cada dois dias). Sendo assim, nada de permanecer exalando o mesmo cheiro bom de seu perfume, mesmo que o tenha passado no dia anterior à essa descoberta ;*);

*que tudo no seu país é caro, mesmo tendo vivido em Londres, e que o seu acesso às coisas boas e de qualidade são beeeeeem mais difíceis. Muiiiiiiiito mais difíceis. Praticamente impossíveis :*S;

*que a lei que proíbe o fumo dentro de lugares públicos é MARAVILHOSA sim! Principalmente depois de tentar ficar em uma pequena boate e não conseguir manter os olhos abertos por causa da fumaça, e não pela vibe do momento! (E viva a velha, que aqui é nova, lei chegando por aí!!!);

*que viajar é maravilhoso. E que é muito triste viver tão longe da Europa e não poder rodá-la gastando tão pouco em passagens aéreas (apesar de termos lugares maravilhosos para conhecer e com muita cultura no Brasil, mas obviamente, não pelos mesmos preços);

*e etc. etc. e etc. e tal.


FELIZ FELICIDADE PARA TODOS EM 2010! SAÚDE!!!SAÚDE!!!SAÚDE!!!Para mim, para você e para aqueles que amamos. ;*)
*Fotografia de Joana Linda, London