quinta-feira, 29 de outubro de 2009

London, London

Matando o tempo em uma tarde fria de outono e ouvindo músicas na nossa "salinha", as usual, acabei encontrando essa boa versão da caetanística London, London, feita pela Cibelle e Devendra Benhart (adoro!), com direito à gravação pelas ruas de Londres e tudo mais : *)




Não sei porque cargas d´água Caetano escreveu essa música, mas a danada parece ter sido escrita na escrivaninha do segundo quarto à direita da minha alma. Já a ouvi N vezes, na versão RPM, Caetano, Gal, Cibelle, etc. Mas, nunca sua letra fez tanto sentindo para mim como agora. É tudo exatamente o que sinto estando aqui. Longe de mim querer analisar a letra de "Caê", porque bala na agulha pra isso aqui, meus caros, passou foi é longe. Mas, posso ME analisar baseando-me nela. Repentinamente, eis que me surge a oportunidade de morar em Londres. Mas, antes de vir, dei pausa na minha vida no Brasil. Deixei emprego e a minha vida pessoal coloquei em stand by (por motivos pessoais óbvios). Cá estou eu. Estou sozinha em Londres,
e Londres é encantadora assim. Solidão, paz, outono, grama verde, olhos azuis, céu cinza, passos sem medo. Acontece apenas de eu estar aqui, e tudo bem. Eu vim pra dizer sim e continuarei dizendo. Até Dezembro, enquanto meus olhos procuram por discos voadores no céu de London, London ...

Quem sabe eles não acabam achando?? ;*)



London, London
Caetano Veloso

I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good to live, at least, and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky


London, London
Caetano Veloso

Eu estou vagando por aí, sem ter pra onde ir
Eu estou sozinho em Londres, Londres é encantadora assim
Eu cruzo as ruas sem medo
Todos mantem o caminho livre
Eu sei, eu sei, ninguem pra dizer olá
Eu sei que eles mantem o caminho livre
Eu estou sozinho em Londres sem medo
Eu estou vagando por aí, sem ter pra onde ir

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

Domingo, segunda, outono passam por mim
E pessoas se apressam tão calmamente
Um grupo se aproxima de um policial
Ele parece tão grato em ajudá-los
É bom viver, ao menos, e eu concordo
Ele parece tão grato, ao menos
E é tão bom viver em paz
Domingo, segunda, anos e eu concordo

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

Eu escolho rosto nenhum pra olhar, escolho nenhum caminho
Acontece apenas de eu estar aqui, e está tudo bem
A grama verde, olhos azuis, céu cinza
Deus abençoe a dor silenciosa e a alegria
Eu vim pra dizer sim, e eu digo

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Moramos em Abbey Road, a famosa Rua dos Beatles, com mais sete pessoas...

... e alguns ratos!!

É. Foi isso que a Mariana falou pra professora dela no nosso último teste oral da escola. E ela não estava errada.

Um dos lugares em que mais ficamos na nossa casa é a copa. É nela que tomamos café, almoçamos, jantamos, estudamos, tomamos cerveja ou vinho e nos reunimos de noite pra papear (até pra fazer piercing ela já serviu, quando a amiga da Má que é Body Piercer aqui em Londres, veio pra fazer um na Xuxa e acabou reabrindo o meu do umbigo que fechou há uns meses. E eu estava ali, bem ali, sentada na cadeira da copa kkkk). Em dia de festas é ainda nela que passamos a maior parte do tempo. É na copa também que fica o computador. E a Ludi, em muitas horas do seu dia (hehe). Uma bela noite estávamos nós duas lá batendo papo, cada qual em seu lugar cativo, quando de repente, embaixo da cadeira onde ela estava sentada, eu vi um ratinho marrom. Foi aí que fui apresentada a ele. Ou melhor, ele se apresentou a mim. O Mickey. De ótima aparência e desenvoltura mínima. Pequenino, marronzinho e bonitinho o danado. Pulando logo essa parte da nossa amazing apresentação (fiquei tão eufórica de alegria que de um pulo só fui parar em cima da cadeira), caminhemos para a página que mais nos importa da história. Descoberta a casa do nosso amiguinho fomos desvendando sua família. Não sabemos ao certo quantos eram (e são hehe), mas sabemos que existe uma primeira dama, e essa foi batizada pela Marcela como Pompom.
O Thiago comprou vários sticks (tipo adesivo mesmo) para tentar pegá-los. Após várias tentativas em vão, na esperança de “colar” os digníssimos no sticks, eis que, um belo dia, a Ludi (bem mais tarde que vim a tomar conhecimento dessa terrível serial killer de ratos) colocou o stick no lugar certeiro (e deu uma risada tenebrosa quando ficou sabendo do sucesso obtido com o próprio feito). Era manhã e estávamos nos arrumando pra ir pra aula, quando a Mariana chegou com a cara mais entristecida do universo “é o ratinho. Preso no stick pelas patinhas, chorando e tentando sair”. Passei léguas da cozinha a partir desse momento. Fechava o olho e corria pra fazer o que tinha que fazer lá no intuito de não vê-lo ali, preso e entregue ao seu sombrio e doloroso destino. Nesse mesmo momento, em um diferente cômodo da casa, Estevam também estava entregue, mas aos braços de Morfeu. Foi aí que fomos até ele e pedimos encarecidamente para que se levantasse e cumprisse o papel de um dos machos da casa. O tiramos dos confortáveis membros superiores do deus dos sonhos e ordenamos que desse um jeito de limpar aquele triste cenário. Ele assim o fez. Levantou. Mas, entre a desgarrada dos braços do Morfeu e a árdua decisão de provar que ele não era (ou era?) mesmo um saco de batatas, a polonesa (quem tem nos confirmado por A mais B que nas horas de apuros uma mulher consegue ser mais macho que muito homem (outro dia ela matou uma aranha gigante no quarto dela e da Ludi)) subiu as escadas primeiro. Pegou a tesoura e cortou o stick, depois de dizer choramingando: “so fuckin tiny (tão pequenininho, essa p...)”. Começaram a discutir o destino do destino do rato. Escutei tudo bem escondida no banheiro. Estevam mandando jogar no lixo (Just throw in the bin (essa agora é uma frase constante usada por nós aqui, de tão engraçado que foi) e a Camila chorando e gritando falando que não era justo que ele ia sofrer até morrer, que preferia jogar pela janela, que assim ele ia morrer de uma vez, e se descabelando que era demais ver o nariz do rato sair sangue (de tanta força que ele fez pra sair). Enfim, para botar em prática o triste destino do pequeno ratinho, Camila o jogou no lixo. Depois, Estevam levou lá para fora, o saco com o rato - quase –defunto dentro. Um segundo depois ele voltou com uma cara péssima, dizendo que não deveria ter feito isso porque o ratinho ia sofrer até morrer. E imagino que o dia dele deve ter sido preenchido e dividido entre pensamentos como: por que não o matei logo? Por que enão provei ser um homem? Por que sou um saco de batatas? e entre a imagem do pobrezinho agonizando dentro daquele sufocante e nojento saco preto. Depois desse maravilhoso começo de dia, fomos pra aula. No dia seguinte, guess what? Outro “fuckin tiny” ratinho preso na cola. Dessa vez, nem a Camila fez o papel de macho da casa. Todos correram léguas dessa tarefa e sobrou pro Estevam. Era a vez dele se redimir e mostrar sua masculinidade. Colocou o ratinho no saco e o matou a pauladas. Caramba, hein, Estevam? Passou de macho a muiiiiito malvado, insensível e sacana (kkkkkkkkkkkkk. Foi o que ele disse quando brigamos com ele: “se não mata não é homem e se mata é um monstro” hahaha). No dia seguinte e nos vários outros depois, nada de ratinhos na cola. Só pulando a escada na calada da noite e entrando atrás da lixeira, na toquinha deles e amedrontando nosso cotidiano londrino, na nossa deliciosa casinha, construída na mais famosa rua de Londres, a Abbey Road ( a mesma da capa do famoso CD dos Beatles). Até sentir os sintomas de leptospirose eu senti, depois de pegar minha capa de chuva debaixo da cama e encostar os dedos em uns pingos de água que nela estavam. Of course, fiquei dias achando que era o bendito do rato que tinha ido visitar meu quarto de noite. Passei noites em claro pensando que as dores da minha perna de subir o morro da minha escola eram um dos avisos que meus dias estavam contados por causa da doença. Mas, Graças a Deus estava enganada. Ainda estou viva, afinal de contas.
Entre sticks e “comidinhas venenosas” para os ratinhos, compradas no supermercado pelo Thiago, nossa vida continuava normalmente. O macho da casa foi embora pro Brasil e veio outro no lugar dele, o Osvaldo (quer dizer, ainda só o vi TENTANDO provar isso). Que no dia que viu o rato pulando a escada correu e pegou a lanterna (daquelas de colocar na cabeça) e ficou o procurando dizendo em alto e bom som que “NÃO! Não dividiria essa casa com ratos!” E que só dormiria depois de matar aquele desgramado que pulou da escada ( coitado. Já chega ter que dividir o quarto com duas garotas, né, Osvald kkkkkkk. Assim não rola, né?). A história continua. Esse fim de semana teve gente pulando feito maluco na frente do rato –mor (Pompom ou Mickey? Qual dos dois passou dessa pra pior (ou melhor. Sabe-se lá)?) preso na cola. O Thiago conseguiu pegar mais um. E o matou a sangue frio ali na cozinha mesmo. Não a marteladas. Como se já não bastasse o pobrezinho estar preso em um stick, ele o esmagou com outro, fazendo um sanduíche de rato (ao menos esse morreu como gostaria de ter vindo ao mundo hehe. E sim! O peixe morre pela boca. Coitado) Argrghh! O fim dessa história? Infelizmente, acho que não estarei aqui pra contar. Vou embora em Dezembro mesmo. Já me decidi (estava vivendo a tal da crise dos três meses, pensando em ficar ou não ficar, eis a questão!). Natal. Uma época propícia para encontros de família. Os ratinhos perderam alguns componentes da sua. Mas, pelas visitas “ratutinas” que a ainda recebemos no melhor lugar da casa, podemos mesmo concluir que essa família é beeeeem grande. E o Natal está quase aí! Tomara que a reunião da ascendência “fuckin tiny” não seja por aqui. Não por mim. Mas, pela minha irmã que anda dizendo por aí que vai ficar aqui mais um mês ...


Quase final de outubro, Ludi vai embora semana que vem (já sinto o vazio das nossas reuniões matutinas, diurnas e noturnas na “salinha” da nossa casa, como ela mesma diz). Quase quatro meses aqui e apenas dois pra voltar pra casa. Mariana está trabalhando em um Pub, três a quatro vezes por semana. Eu procurando algo e pensando se quero meeeeesmo trabalhar por aqui (That´s a shame, hein Flávia??). Inglês melhorando. Saudade aumentando. Crescimento pessoal vindo à tona. Algumas dolorosas notícias que chegam com o vento gelado de Londres do Brasil. Daquelas de furar o peito feito faca. É a vida. É a minha vida em London. É o frio chegando. São as folhas morrendo e cobrindo de beleza as ruas da cidade. Esse vai ser o outono mais lindo que já vi em toda ela...

(E essas notícias tristes? O que fazer com elas? Just throw in the bin, diria Estevam ;*))