domingo, 26 de julho de 2009

Um show à parte

Aos que andam me cobrando mais posts, sorry! Londres está me consumindo. Ando na correria de sempre e agora parece que ela está um pouco pior. Como havia dito antes, o tempo aqui não passa, ele voa. E devido ao cansaço, sempre que podemos estamos dando uma dormidinha até mais tarde. Além de treinar nosso inglês no living room com os amigos da residência após o jantar ou do café da manhã nos fins de semana. Estamos formando um grupo grande por aqui. Já saimos juntos na sexta (só as mulheres da Chester House) e ontem, pra fazer um picnic no parque. O post de hoje é um show à parte e tem uma razão: indignação (ou choque, decepção ou seja lá que nome leva um sentimento pós-show em um país de uma cultura completamente diferente da sua). Hoje é domingo. Acabamos de chegar do show da Madeleine Peyroux (Vanessinha!!! Tenho absoluta certeza de que é você quem aaaama suas músicas. Tô certa?) em Camdem Town. Felizes e sorridentes, eu, Ludi e Mari conseguimos entrar no iTunes LIVE London Festival´09 , um festival free que está tendo por aqui com bandinhas menos conhecidas (e outras conhecidas como Oasis, Mika, a-ha, Placebo, etc.). Isso é bem comum por aqui. Para entrar, basta se cadastrar no site e retirar seu e-ticket free pela net. Nós, como todo bom brasileiro, claro, não fizemos isso e fomos tentar a sorte na fila. E não é que conseguimos entrar? Foi fácil. Fácil até demais, diga-se de passagem. O show da noite começou com uma bandinha boa de Dublin, chamada Imelda May (um estilo Rockabilly muito bom). Super contentes, cantamos, dançamos e tiramos fotos dessa bandinha super legal (ahhh! A primeira indignação da noite tem uma dona: Mariana. Ela nunca estava andando com sua máquina profissa por aqui, por causa do peso e, hoje, para fotografar o show, levou-a na sua mochila. Quando tirou-a para testar a luz, antes do show começar, o segurança com olhos de águia veio em sua direção dizendo que ela não poderia tirar fotos, já que ela não tinha se cadastrado para tal finalidade. Então, ela teve que descer e pagar 1 pound para guardar a máquina no guarda-volumes do estabelecimento. Tadinha. Ficou P da “Vida”, a Mariana Vida). De repente, em homenagem aos Beatles (por causa da famosa rua de Londres, a Abbey Road ( que por sinal é a que irei morar e a Ludi já mora) ela começa a cantar Oh, Darling ( Sá!! A nossa música de infância e de longe a que mais amo dos Beatles). Piramos. Cantamos em alto e bom som e percebemos alguns olhinhos meio tortos pra gente em meio a plateia. Até aí tudo bem. Ok! Intervalo. Uma passeadinha pra tomar um ar e ida ao banheiro. Madeleine Peyroux toma o palco do estabelecimento. Pra quem não conhece, ela canta um jazzinho muito do bom (pra quem gosta de Billie Holiday, Nina Simone, Ella Fitzgerald como eu, é perfeito. Ela até fazia covers com músicas dessas cantoras) e até uma música dela que não me lembro qual já fez parte da trilha sonora de uma das nossas novelas, que não consigo me lembrar qual é também. Eis que começa o show. As três brasileiras insanas em meio a tão excelente espetáculo, e free, ainda por cima, se empolgam. E comentam e cantam e dançam. Percebemos que as pessoas da plateia simplesmente não se mexiam. Não se moviam. Estavam paralisados, como múmias em filme de Faraós. "Oh, God! Tem algo de muito errado por aqui", pensamos. De repente, depois de muitos olhares tortos de uma loira na nossa frente, essa mesma figura (repetida) resolve apelar e manda longo um Shhhhhhhhiu! pra trás. Genteeee! Ei! Isso aqui é um show ou um saral da terceira série do filho mais novo da minha tia? Minha genteeee. Quer ficar quetinho, quer? Vai comprar um DVD e ouvir a letra da música deitado no sofá, “peloamordeDeus”. Nesse frio, perde seu tempo não minha filha. Fica em casa, ô gente!!!! A Ludi cantando a primeira música um pouco alto, levou uma olhadela da mulher-mosntro (nunca vi mais feia) da frente e teve que soltar um sonoro Sorry! Sorry porque, pessoas. Bando de gente doidaaaaa. Eu, hein? Não estávamos nos aguentando. Incabuladas, deixamos de prestar atenção no maravilhoso jazz de Madeleine cantava e passamos a filosofar sobre a cultura alheia: “deve ser por isso que os cantores gostam de fazer show no Brasil”, suspirou Mariana. De repente as pessoas bateram palma, a loira aguada riu bem alto e Mariana se libertou: Shiuuuuuuuuuuuuu! e pagou com o mesmo pound, ou trocando em miúdos, com a mesma moeda. Putz! A loira, super inglesa-educada disse em sua língua maravilhosa e universal “quando faço assim, não é querendo ser chata, é porque quero ouvir a música”. Daí soltei um português beeem central ali de Minas, em alto e bom som pra ouvir (e não entender, of course): nossa! Você tem que ir em algum show no Brasil pra ver que legal que é” e ela, encabuladíssima, fez um anhan. okay, okay olhou pra sua amiga com cara de desintedida e virou pra frente. Deus! Foi a segunda vez aqui em Londres que ri da barriga doer. Foi extremamente engraçada a cena. Eu falei sem querer aquilo. Saiu. Como um passarinho da gaiola quando vê sua porta aberta. Só estando lá pra vocês verem aquilo. De repente, ficamos as três em meio a um vácuo gigante. As pessoas em nossa volta, foram saindo aos poucos porque não conseguíamos deixar de lado a nossa indignação, e falávamos, falávamos e riámos e riámos. Madeleine Peyroux tinha morrido, estávamos em seu enterro e não sabíamos. Pra que ir a um show desses se não pode cantar, dançar, levantar as mãos, fazer comentários sobre a luz do cenário, o cabelo ou o chapéu da cantora, sobre a performance do baixista, a acústica do ambiente ou a preciosidade do cenário? E respirar? Podia pelo menos? Foi demais! Talvez seja o tipo de música, mas minha gente, esse tipo de música em minha cidade é tocada em um Teatro, tal como Palácio das Artes, com cadeiras numeradas, ou no Chevrolett Hall, com mesas compradas e, mesmo assim, as pessoas respiram e CURTEM o show. Fico pensando no artista. Na tamanha falta de educação e respeito em não demonstrar gosto pelo que ele faz no show, pelas preciosidades daquele momento único que não voltarão nunca mais. Lembrei-me da minha aula de Estética e Cultura de Massa na faculdade, quando meu professor dizia que expressão da arte era o show de um artista e não supostamente a regravação desse show em um CD, ou DVD. Isso é viver outra cultura. Até posso entender a forma como as pessoas gostam de viver, ou ver ou sentir as coisas a seu modo. De acordo com as regras, leis, normas e os hábitos de seu país e de seu povo. Posso ser punida por infrigir essas leis e normas, devo respeitá-las, afinal, não estou no meu país (e mesmo que estivesse), mas não posso ser punida por querer expressar, à minha maneira, o meu gosto, a minha paixão ou a minha idolatria por uma música, um ator, um filme, ou seja lá que "diabo" for (isso dá uma discussão e tanto, digna de horas a fio em uma manhã de trabalho na Doppia hahaha). Qual o limite? Não sei. Só sei que agora, mais uma vez, terei que concordar com Amyr Klink: quanto valor dou à minha pátria, à minha língua, genteee! Hoje posso dizer que, definitivamente, um show de Madeleine Peyroux em Belo Horizonte deve ser infinitamente mais divertido e caloroso do que em Londres. Educação do povo inglês? Amor pela arte? Idolatria? Seja lá o que for que eles sentem por ela e sua música, hoje, depois desse showzinho à parte, vou é dormir. E com muuuita, mas muuuuita saudade do tal do jeitinho brasileiro de ser.

E é assim, “minha gente” (jargão de minha querida amiga Rê): vivendo e aprendendo (em) Londres. Cada dia mais...


PS: já fomos a um parque aqui fazer picnic.Ontem. O dia estava lindo e estava calor. É lindo. Como em um filme, pais e crianças brincando de baseball na grama, pessoas deitadas com toalhas e muitas comidas no centro. E na sexta aconteceu uma coisa realmente engraçada. Saímos pra procurar a firma de emprego pra nos cadastrar (você deixa seu nome, faz um curso free de garçonete e está pronta pra ser chamada caso surja algo de interessante pra você) mas, não achávamos a portinha do lugar.A Ludi só nos falou onde que era e rodamos como peru e não achamos. A Mariana pegou o telefone e ligou pra saber como fazíamos pra chegar. Sem se preparar ela falou com o moço que, do outro lado da linha, deu uma dica pra ela: acho que não tem emprego pra você. Você não sabe falar inglês ainda ( visto que ela ficou bem nervosa e se embolou toda na língua). Melhore mais um pouco e volte a me ligar na outra semana. Percebi aquela cara comprida (como diz minha mãe) perdendo a cor já inexistente e a ouvi dizendo: mas, meu inglês na escola é intermediário, táaaaa? Obrigada e tchau. E bateu o “gancho”. Ela ficou indignada, a bichinha. E um pouco mais calada até o final do dia, diga-se de passagem. Hahahahahaha. Acabamos não achando mesmo a firma e até hoje fico imaginando o que ele teria falado pra mim, se fosse eu quem tivesse ligado (afinal, a minha luta contra o inglês continua, e ele ta ganhando de mim Inglês 10 x Flávia 1,5).

Saudades: de comer açaí, de apertar as minhas cachorras (até de sentir o bafo de leão de uma delas). Quase pedi um emprestado lá no parque pra eu poder “amassá-lo”(falar nisso descobri que quem tem cachorro aqui em Londres paga uma taxa no valor de 5 pounds por mês pra tê-lo. Ainda não sei a finalidade e pra onde vai o dinheiro, mas irei descobrir e contarei aqui pra vocês). Saudade de um abraço apertado, um carinho na minha cabeça...

Vóooo! Vozinha querida! Hoje é Dia da Avó. Feliz dia da vó pra vó mais linda e perfeita do mundo todo. Eu amo você. E estou com saudade. Vem fazer um cafuné n´eu, vem?

4 comentários:

  1. é amiga, com vc pertinho de mim já sentia saudades, com vc ai...nem falo muito pra não apertar...
    mas como disse; tenho mais noticias suas vc estando ai...
    revivi os tempos de OHHH darling, vc dançando..rsrs...
    tantas coisas q ficam por serem verdadeiras ne...saudades.
    Fique sempre com Deus!!
    Bjs. eu eu mesma e sei la quem....um pouco perdida ultimamente..ultimamente????kkkk

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  2. Oi Filha!
    Cada dia fica melhor esta internet-novela, adoooorei o mico de vocês, pois é, cultura né bem, acontece. Já ouvimos falar da forma inglesa de agir "mas em um show", fala sério, ou posso dizer é ser muito sério, caramba!!!
    Da próxima vez saiam com um manual de boas maneiras pra inglês ver, rs. Gostaria que você fosse a uma casa de chá para descrevê-la sob sua lupa "afiada", vai ser legal.
    Um grande beijo bem brasileiro
    mammy

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  3. huehueh... etiqueta não apenas no ritual do chá das cinco... acho que agora entendo o porque de terem surgido tantas bandas boas do rock n´roll britânico, ir contra a ordem, quebrar o sistema rsrs

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  4. Putz! Moderação total em um show, é o fim da picada... Realmente o pior é para o "cantor" que nem tem noção se agradou ou não. Só saberá no final da apresentação. Se será tomates ou aplausos. rs Pois é.

    Bom mesmo foi saber dessas atitudes (cultura) do pessoal daí.

    Ainda bem que somos do lado de cá da linha do equador, né?

    Abração e excelente semana!

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